sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Epifania do Senhor - 06 de janeiro

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Epifania do Senhor


Rev. Edson Cortasio Sardinha



A palavra Epifania significa "Manifestação". É a festa da manifestação de Jesus como Deus ao mundo.
Frequentemente se refere a esta festa como a "Teofanía", tal como se diz nos livros litúrgicos da Igreja Ortodoxa, palavra que significa Manifestação de Deus.
Neste dia lembramos três atos epifânicos de Jesus Cristo como Deus: A Estrela que guia os Magos a Belém; o Espírito Santo e a Voz do Pai que aparecem em seu batismo e o primeiro Milagre em Caná da Galiléia.
A celebração da Epifania é o terceiro período litúrgico do Ciclo do Natal. Ocorre no dia 06 de janeiro ou no domingo mais próximo 9segundo ou terceiro domingo depois do Natal).

I. A origem da celebração da Epifania
Antes de ser celebrado o dia 25 do dezembro como o dia do Natal, os cristãos do fim do segundo século, já celebravam a Epifania, festa realizada no dia 6 de janeiro.
A estratégia era a cristianização do paganismo. Retirar do Império Romano o paganismo e introduzir celebrações que exaltassem a Cristo como Deus. Era uma estratégia missionária.
No Oriente, o dia 6 de janeiro estava ligado ao nascimento virginal de Aion/Dionísio e com diversas outras lendas de epifania nas quais os deuses se manifestavam aos seres humanos.  Plínio discorre a respeito dos modos como Dionísio revelava a sua presença naquele dia, transformando água em fontes vinho (Natural History).
Os cristãos, nessa época, perseguidos pelos romanos, tiveram a estratégia de celebrar, na mesma data, a Epifania de Jesus (Manifestação de Jesus). Para confrontar os poderes das trevas, elegeram essa data como especial no calendário da Igreja.
Nessa festa pregavam o nascimento virginal de Cristo, a visita dos magos a Jesus, seu batismo e seu milagre de transformar a água em vinho em Caná da Galiléia.
Nessa celebração, segundo Jerônimo que morou 24 anos em Belém, o Batismo de Jesus era o conteúdo principal.
Muitos estudiosos veem na Epifania uma cristianização da festa judaica dos Tabernáculos.
As duas celebrações (epifania e tabernáculos) incluíam a vigília durante a noite toda, a iluminação de círios e a procissão das luzes, as águas da vida, os ramos de palmeiras e alusões ao matrimônio.

II. A Oração do Dia da Epifania
            O Livro de Oração Comum, utilizado pelos protestante anglicanos e algumas igrejas evangélicas, tem a seguinte oração para este dia:
            "Ó Deus, que pela Estrela manifestaste teu unigênito Filho a todos os povos da terra; guia-nos à tua presença, os que hoje te conhecemos pela fé; a fim de que desfrutemos de tua glória face a face; mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém".
           
            É uma oração que pede a direção de Deus para que vivamos debaixo da graça, pela fé.

III. As Celebrações da Epifania nas tradições cristãs
            Algumas igrejas protestantes celebram a Epifania do Senhor. As católicas tem uma missa própria com uma pequena alusão ao tema.
            Na religiosidade popular brasileira existe a Folia de Reis. É uma festa religiosa de origem portuguesa, que chegou ao Brasil no século XVIII. Em Portugal, em meados do século XVII, tinha a principal finalidade de divertir o povo, enquanto aqui no Brasil, passou a ter um caráter mais religioso do que de diversão.
            No período de 24 de dezembro, véspera de Natal, a 6 de janeiro, Dia de Reis, um grupo de cantadores e instrumentistas percorre a cidade entoando versos relativos à visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. Passam de porta em porta em busca de oferendas.
            Contudo, é importante ressaltar que Epifania não é o Dia de Reis. O Evangelho de Mateus não chama os Magos de reis, nem diz que eram três. Apenas são chamados de "os magos". Por isso, pela Bíblia, não existem "os Três Reis Magos".
            A tradição que afirma que eram três Reis magos, deu também a eles os nomes de Melquior, Baltasar e Gaspar.
            Esses nomes aparecem no Evangelho Apócrifo Armeno da Infância do fim do século VI, (ampliação do Evangelho do Pseudo-Tomé do II século). A palavra Apócrifo significa livros ocultos, secretos. Geralmente são livros escritos pelas seitas cristãs do II ao VI séculos depois de Cristo.
            No capítulo 5,10, do Evangelho Apócrifo Armeno da Infância está escrito:
Um anjo do Senhor foi de pressa ao país dos persas para avisar aos reis magos e ordenar a eles de ir e adorar o menino que acabara de nascer. Estes, depois de ter caminhado durante nove meses, tendo por guia a estrela, chegaram à meta exatamente quando Maria tinha dado à luz. Precisa-se saber que, naquele tempo, o reino persiano dominava todos os reis do Oriente, por causa do seu poder e das suas vitórias. Os reis magos eram três irmãos: Melquior, que reinava sobre os persianos; Baltasar, que era rei dos indianos, e Gaspar, que dominava no país dos árabes.

IV. A Liturgia Ortodoxa da Epifania
            A Liturgia Ortodoxa da Epifania é rica em muitas tradições. É um rito longo e cheio de significados.
            É uma celebração da adoração a Trindade. No "Tropário (poema) da Festa" está escrito:
"Em teu batismo no Jordão, Senhor, manifestou-se a adoração da Trindade; pois a voz do Pai deu testemunha, chamando-te Filho bem-amado; e o Espírito, sob forma de pomba, confirmou a verdade desta palavra. Ó Cristo Deus que te manifestaste e iluminaste o mundo, Senhor, glória a Ti!"

            A Liturgia Ortodoxa celebra a Manifestação de Jesus ao Universo. No Kondakion - Hino litúrgico da Igreja Ortodoxa, está escrito: "Hoje, Senhor, te manifestaste ao Universo e a tua voz brilhou sobre nós, que, conhecendo-te, cantamos: Vieste, apareceste, ó Luz Inacessível!
            Os ofícios litúrgicos reproduzem os do Natal, apesar da celebração da Epifania ser mais antiga do que as celebrações do Natal.
            A característica principal da festa da Epifania na Igreja ortodoxa é a Grande Bênção das Águas, uma vez que a Epifania nasceu da liturgia da festa dos tabernáculos.
            No Hino da Grande Bênção das águas traz a seguinte estrofe:
  "A voz do Senhor faz-se ouvir sobre as águas, dizendo: Vinde, todos, receber o espírito de sabedoria, o espírito de inteligência, o espírito de temor de Deus, do Cristo que se manifestou! Hoje a natureza das águas se santifica o Jordão se divide e suas águas deixam de correr; porque nele se vê o Senhor sendo batizado. Ó Cristo Rei, como homem vieste ao rio para batizar-te. Tomaste a iniciativa para receber o batismo da mão do Precursor como escravo, por nossos pecados, ó amante da humanidade".

V. A Epifania na Igreja Metodista
            Na Pastoral      do Colégio Episcopal  sobre o Culto na Igreja Metodista, há um estudo sobre os períodos litúrgicos.
            Sobre a Epifania a Pastoral diz que "esse tempo celebra a manifestação de Cristo aos seres humanos. No momento em que os magos do Oriente seguiram a estrela em busca daquele que viria a ser o Salvador por excelência. A Epifania é para o Natal o que o Pentecostes é para a Páscoa, isto é, desenvolvimento e permanência do ato de Cristo em favor da humanidade. A espiritualidade desse período é caracterizada pela manifestação e aparição de Cristo ao mundo. É o Cristo prometido que se torna uma realidade na vida de mulheres e homens que procuram a paz, a justiça e o amor". 

VI. As Leituras da Epifania
            A primeira leitura é Is 60.1-6.
            Fala da Glória do Senhor que nasce sobre os homens. Os pais da Igreja entenderam este salmo como uma alusão profética sobre a Estrela de Belém e as visitas dos Magos a Jesus.     As nações e os reis vão ao encontro do Senhor por causa da luz de sua glória:  (3)   As nações se encaminham para a tua luz, e os reis, para o resplendor que te nasceu.
            Muitos virão de longe ao encontro do rei que nasceu (4)   Levanta em redor os olhos e vê; todos estes se ajuntam e vêm ter contigo; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são trazidas nos braços.
            Trarão ouro e incenso: (5) ...e as riquezas das nações virão a ter contigo. (6) Trarão ouro e incenso e publicarão os louvores do SENHOR.
            O Salmo cantado é o 72:
            Este Salmo fala da eternidade do Messias: (5)   Ele permanecerá enquanto existir o sol e enquanto durar a lua, através das gerações. Fala do seu domínio: (8) Domine ele de mar a mar e desde o rio até aos confins da terra.
            Reis virão lhe oferecer presentes: (10)   Paguem-lhe tributos os reis de Társis e das ilhas; os reis de Sabá e de Sebá lhe ofereçam presentes. (11)   E todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam. (15)    Viverá, e se lhe dará do ouro de Sabá; e continuamente se fará por ele oração, e o bendirão todos os dias.
            O Messias é o Senhor de misericórdia e retidão.
            A segunda leitura é Ef 3.2-6.
            Paulo fala da dispensação da Graça que foi inaugurada em Cristo. (2)
                        Jesus é o mistério de Deus que foi revelado a Paulo e a Igreja (3,4). No passado os homens não conseguiram entender este mistério de Deus, mas na dispensação da graça conhecemos a manifestação de Jesus aos gentios que hoje são (6) "co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho".

            O Evangelho da Epifania é Mt 2.1-12.
            Este Evangelho relata a vinda dos magos a Jesus. Saem do Oriente, vão a Jerusalém, caminham para Belém orientados pela estrela e adoram o menino que estava numa casa com sua mãe. Oferecem Ouro, Incenso e Mirra.
            É a adoração baseada no sacrifício de louvor. Os magos sacrificam suas vidas para oferecer a Jesus um louvor e adoração.

VII. A Estrela de Belém
            O cristão Tomás de Aquino (viveu de 1224 à 1274) escreveu um texto sobre esta estrela que guiou os Magos ("Suma Teológica III, q. 36, a.7):
            . Esta estrela seguiu um caminho de norte ao sul, o que não é comum ao geral das estrelas.
            . Ela aparecia não só de noite, mas também durante o dia.
            . Algumas vezes, ela aparecia e outras vezes se ocultava.
            . Não tinha um movimento contínuo: andava quando era preciso que os magos caminhassem, e se detinha quando eles deviam se deter, como a coluna de nuvens no deserto.
            . A estrela mostrou o parto da Virgem não só permanecendo no alto, mas também descendo, pois não podia indicar claramente a casa se não estivesse próxima da terra.            
            O que era a estrela então? Tomás de Aquino responde: A estrela poderia ser
            . O Espírito Santo, assim como Ele apareceu em forma de pomba sobre Nosso Senhor em Seu batismo, também apareceu aos magos em forma de estrela.
            . Um anjo, o mesmo que apareceu aos pastores, apareceu aos magos em forma de estrela.
            . Uma espécie de estrela criada à parte das outras, não no céu, mas na atmosfera próxima à terra, e que se movia segundo a vontade de Deus.

Conclusão:
            A Estrela, os milagres de Jesus, seu Batismo e seu ministério revelam sua epifania.
            É a manifestação do Deus que amou o mundo de tal maneira que enviou seu unigênito filho para nos Salvar.
            Epifania é o esforço de Deus para salvar o homem e a mulher mediante Jesus Cristo. É a manifestação do Cristo Salvador.
            Ouçamos Leão Magno (falecido em 461 d.C) em sua pregação sobre o Dia da Epifania:

            "Portanto, amados filhos, instruídos nos mistérios da graça divina, celebremos com alegria espiritual o dia das nossas primícias e do primeiro chamado dos povos pagãos à fé, dando graças a Deus misericordioso que, conforme diz o Apóstolo, nos tornou capazes de participar da luz que é a herança dos santos; ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu amado Filho. Pois, como anunciou Isaías, o povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu. E ainda referindo-se a eles, o mesmo profeta diz ao Senhor: Nações que não vos conheciam vos invocarão e povos que vos ignoravam acorrerão a vós". (Dos Sermões de São Leão Magno - Sermão III in Epiphania Domini).




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