terça-feira, 11 de outubro de 2016

Os Puritanos e as Liturgias

Os Puritanos e as Liturgias
Rev. Edson Cortasio Sardinha





Algumas igrejas olham para as nossas tradições litúrgicas e acham estranhas. Alguns chegam a dizer que somos “católicos melhorados”. Muitos, por falta de conhecimento, desprezam nossa liturgias e ritos, uso de óleo para unção, vestes clericais, genuflexão no altar e imposição das mãos. 
O termo “puritano” no sentido pejorativo atual significa rigidez, moralismo, intolerância. Contudo, foi um movimento muito influente na Inglaterra e a principal tradição religiosa na história dos Estados Unidos.
Este movimento em prol da reforma da Igreja da Inglaterra teve início no reinado de Elizabete I (1558) e continuou por mais de um século como uma grande força religiosa na Inglaterra e também nos Estados Unidos.
Foi um movimento religioso protestante dos séculos 16 e 17 que buscou “purificar” a Igreja da Inglaterra de toda aparência com o catolicismo. O movimento foi calvinista quanto à teologia e presbiteriano ou congregacional quanto ao governo eclesiástico.
Sabemos que o protestantismo inglês sofreu a influência de Lutero e especialmente da teologia reformada continental, a Reforma Suíça de Zurique (Zuínglio, Bullinger) e Genebra (Calvino, Beza).
Henrique VIII (1509-1547) usou a reforma protestante na Inglaterra e forjou a criação de uma igreja católica nacional inglesa. Em 1539, impôs os Seis Artigos, com severas punições para os transgressores (“o açoite sangrento de seis cordas”).
Em sua doutrina, a Igreja nacional católica inglesa incluía a transubstanciação, a comunhão em uma só espécie, o celibato clerical, votos de castidade para leigos, missas particulares, confissão auricular, etc. Seria uma verdadeira igreja católica nacional.
Muitos protestantes se opuseram ao cerimonialismo e tiveram que fugir da Inglaterra; entre eles, Miles Coverdale e John Hooper.
Na época de Eduardo VI (1547-1553) a influência dos partidários de uma reforma profunda da igreja inglesa se tornou mais forte. John Hooper dispôs-se a aceitar um bispado que lhe foi oferecido, mas não a ser investido no ofício do modo prescrito, com o uso das vestes litúrgicas. Acabou sendo lançado na prisão por algum tempo. Foi o primeiro a expor claramente o argumento acerca das vestes. Para ele as vestes clericais eram resquícios do catolicismo. Começa a surgir uma nítida distinção entre anglicanismo e puritanismo.
Com Maria I (1553-1558), a sanguinária, tudo piorou. Ela tentou restaurar a Igreja Católica na Inglaterra e perseguiu os líderes protestantes. Muitos foram executados – Hugh Latimer (†1555), Nicholas Ridley (†1555) e Thomas Cranmer (†1556) – mártires marianos. Outros fugiram para o continente (Genebra, Zurique, Frankfurt), entre eles John Knox e William Whittingham, o principal responsável pela Bíblia de Genebra. Nesse período surgiram em Londres as primeiras igrejas independentes.
Com Elizabete I (1558-1603), apesar favorável aos protestantes, os puritanos se decepcionaram amargamente. A rainha continuou a controlar a igreja, manteve os bispos e as cerimônias litúrgicas. Ela que criou a Igreja Anglicana como a conhecemos hoje.
Os puritanos passaram a ter este nome a partir da “Controvérsia das Vestimentas” (1563-1567). Foi um protesto contra vestimentas clericais (eles propunham o uso de togas genebrinas), cerimônias como ajoelhar-se à Ceia do Senhor, dias santos e sinal da cruz no batismo.
Carlos I (1625-1649) manteve a política de repressão contra os puritanos, o que levou um grupo a ir para Massachusetts em 1630. No final do seu reinado, entrou em guerra contra os presbiterianos escoceses e contra os puritanos ingleses. Estes eram maioria no Parlamento e convocaram a Assembléia de Westminster (1643-49), que elaborou os famosos e influentes documentos da fé reformada.
Carlos II (1660-1685) - expulsou cerca de 2000 ministros puritanos da Igreja da Inglaterra. A Grande Expulsão (1662) marcou o fim do puritanismo anglicano. Embora perseguidos, sobreviveram como dissidentes (“dissenters”) fora da igreja estatal e eventualmente criaram igrejas batistas, congregacionais e presbiterianas.
O puritanismo americano foi muito dinâmico e influente por pouco mais de um século, desde os primórdios na Nova Inglaterra (1620) até o Grande Despertamento (1740). Alguns nomes notáveis dessa tradição foram John Cotton, William Bradford, John Winthrop, John Eliot, Thomas Hooker, Cotton Mather e Jonathan Edwards. Herdeiros recentes da tradição puritana: Charles H. Spurgeon, D. M. Lloyd-Jones, J. I. Packer, James M. Boice e outros.
Eles entendiam que a Igreja Inglesa devia adotar como modelo as igrejas reformadas do continente. O puritanismo influenciou a tradição reformada no culto, governo eclesiástico, teologia, ética e espiritualidade.
O sentido original do termo “puritano” apontava para a purificação da igreja, na medida em que os puritanos queriam descartar os elementos arquitetônicos, litúrgicos e cerimoniais que consideravam conflitantes com a simplicidade bíblica. Por exemplo, eles objetavam contra o sinal da cruz no batismo e a genuflexão para receber a Santa Ceia (Ceia mesa a mesa no altar).
Ao invés de paramentos elaborados (sobrepeliz), eles preferiam uma toga preta que simbolizava o caráter do ministro como um expositor culto da Bíblia.
Sofrendo oposição dos bispos e estando comprometidos com uma eclesiologia que dava ênfase à igreja como uma comunidade pactuada, muitos puritanos rejeitaram o episcopado.
Por causa desta influência histórica puritana, muitas igrejas da atualidade não aceitam nosso Calendário Cristão, vestes litúrgicas, unção com óleo e o ritual. 
A OESI é carismática, evangelical e litúrgica-sacramental. 



Fonte pesquisada: OS PURITANOS: SUA ORIGEM E SUA HISTÓRIA. Alderi Souza de Matos. In: http://www.mackenzie.br.