A Quaresma: Origem e Práticas
Rev. Edson
Cortasio Sardinha
I.
A Quaresma
A
Quaresma é mencionada pela primeira vez no Concílio de Nicéia (o primeiro Concílio de Niceia foi
uma reunião de bispos cristãos
reunidos na cidade de Niceia da Bitínia,
atual İznik, Turquia, em 225
d.C).
Foi criada a partir de duas práticas da Igreja
Primitiva: O longo jejum anterior à Páscoa e o período de preparação para o
batismo. Desde o II século o candidato ao batismo esperava três anos para ser
batizado. O batismo ocorria uma vez ao ano, no dia da Páscoa. Na Sexta feira santa
ele ia à igreja e colocava as roupas de neófitos. Ali ficava em jejum até o
Domingo da Ressurreição onde era batizado nu, em geral por derramamento.
O número quarenta foi
determinado pela duração do jejum do Senhor Jesus no deserto. Para alguns
líderes da igreja do passado, a quaresma terminava na Quinta-feira Santa e a
contagem de 40 dias não contemplava os sábados e domingos.
Hoje é um tempo de oração
onde a Igreja é chamada a conversão, oração, arrependimento e avivamento. Se
fosse levada a sério mudaria a fisionomia do cristianismo no Brasil.
II. A Origem
Judaica
Esta tradição
cristã veio do Rito da Expiação do judaísmo. A palavra expiação aparece poucas
vezes na Bíblia, mas o seu conceito constitui o assunto principal do Antigo e
do Novo Testamento. Palavras mais
conhecidas como reconciliação, propiciatório, sangue, remissão de pecados e
perdão estão diretamente relacionadas com esse tema.
Todo israelita
sabia que "aos dez do mês sétimo era o Dia da Expiação" (Levítico
23:27). Havia sacrifícios diários pelo
pecado, mas esse era um dia especial, de santa convocação. Levítico 16 diz que o Sumo Sacerdote: 1. se
purificaria com água; 2. vestiria suas vestes santas de linho; 3. mataria um
novilho para fazer expiação por si e pela sua família; 4. tomaria uma vasilha
de brasas do altar e entraria no Santo dos Santos para que a nuvem de incenso
cobrisse o propiciatório, que era o lugar da expiação, da propiciação e da
reconciliação; 5. sairia, tomaria
o sangue do novilho, entraria pela segunda vez no lugar santo com o sangue e o
aspergiria sete vezes sobre o propiciatório e diante dele; 'mataria o bode para
a oferta pelo pecado, ultrapassaria o véu pela terceira vez e faria com o sangue
como tinha feito com o sangue do novilho; faria expiação pelo lugar santo e
pelo altar do holocausto; imporia as mãos sobre a cabeça do bode vivo,
confessaria os pecados do povo e enviaria o bode para o deserto; e tiraria as
vestes de linho, iria lavar-se, poria outra roupa e ofereceria um holocausto
por si e pelo povo.
Esse dia era
impressionante, santo e de grande importância porque os pecados de Israel eram
expiados por meio de sangue. Já que "é impossível que o sangue de touros e
de bodes remova pecados" (Hebreus 10:4), esse ritual devia repetir-se a
cada ano (Levítico 16:34) até aquele dia grandioso em que Cristo seria
"oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos"
(Hebreus 9:28).
Hoje este o dia
da Expiação é conhecido como Yom Kippur. Yom Kippur é o Dia do Perdão, uma das
datas mais importantes do Judaísmo.
No calendário
judaico atual começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebreu de
Tishrei (que coincide com Setembro, Outubro ou Novembro), continuando até ao
seguinte pôr do sol. Os judeus tradicionalmente observam esse feriado com um
período de jejum de 25 horas e oração intensa.
Existem 6
proibições no Yom Kippur: Comer (come-se um pouco antes do pôr-do-sol ainda na
véspera do dia até o nascer das estrelas do dia de Yom Kippur); usar calçados
de couro; manter relações conjugais; passar cremes, desodorante, etc. no corpo;
banhar-se por prazer e usar eletrodomésticos.
A essência
destas proibições é causar aflição ao corpo, dando, então, prioridade à alma.
Pela perspectiva judaica, o ser humano é constituído pelo yetzer hatóv (o
desejo de fazer as coisas corretamente, que é identificado com a alma) e o
yetzer hará (o desejo de seguir os próprios instintos, que corresponde ao
corpo).
A tradição
judaica coloca ao mês de EluI, último do ano, como prefácio para ir preparando
o homem para a reflexão profunda, até o grande caminho interior. Cedo, nas
manhãs de Elul se ouve o som do shofar. Uma semana antes de Rosh Hashaná (Ano
Novo Rabínico), também durante a madrugada, se dizem as orações que se chamam
"selichot" - perdões). O 1º de Tishrei é o grande dia, a base para um
ano novo e um novo ano de vida. Depois seguirão nove dias até o dia do perdão.
Dez dias, para aprofundar-se dentro de si, afastar o mal, aproximar o bem. O
processo chega a sua culminância no dia 10º de Tishrei : Yom Kipur.
III.
A Tradição da Igreja
No Lecionário
Cristão a segunda-feira da IV Semana da Quaresma a reflexão é realizada em
Levítico justamente sobre o Dia da Expiação.
Orígenes no
século III fez um belo sermão sobre o Dia da Expiação e o Sacrifício de Cristo
na cruz. Ele diz:
“Uma vez por ano
o sumo sacerdote, afastando-se do povo, entra no lugar onde estão o
propiciatório, os querubins, a arca da aliança e o altar do incenso; ninguém
pode entrar aí, exceto o sumo sacerdote. Mas consideremos o nosso verdadeiro
sumo sacerdote, o Senhor Jesus Cristo. Tendo assumido a natureza humana, ele
estava o ano todo com o povo – aquele ano do qual ele mesmo disse: O Senhor
enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres; proclamar um ano da graça do
Senhor e o dia do perdão (cf. Lc 4,18.19) – e uma só vez durante esse ano, no
dia da expiação, ele entrou no santuário, isto é, penetrou nos céus, depois de
cumprir sua missão redentora, e permanece diante do Pai, para torná-lo propício
ao gênero humano e interceder por todos os que nele creem”.
IV. Como viver o período Quaresmal?
Os domingos:
Os domingos da Quaresma são ricos. Os Evangelhos e os textos Bíblicos convidam
para o arrependimento e nos preparam para o sacrifício do Senhor.
Lecionário:
Leia as leituras Bíblicas de cada domingo que são apresentadas no final do
Boletim, segundo o Lecionário Comum.
Jejum:
Faça jejum uma vez por semana, de preferência na sexta-feira lembrando-se da morte
do Senhor. Caso tenha dúvidas, por motivo de saúde, pergunte ao seu médico
sobre a duração do jejum e o que não poderá se abster nestas horas.
Abstinência:
Faça abstinência em oração e consagração de alguma coisa importante para você.
(televisão, carne, refrigerante, etc.).
Oração:
Coloque diante de Deus diariamente sua vida e família e clame por conversão e
unção de Deus para que possamos viver verdadeiramente a justiça e a paz de
Cristo no mundo.
Leituras de Espiritualidade:
Procure leituras próprias para este período. Livros que falem sobre oração,
jejum, conversão, perdão, etc.
Caridade:
Não apenas na Quaresma, mas em todo o tempo, viva o jejum praticando a Caridade
e o amor ao próximo. Neste tempo procure fazer uma caridade relevante e
sigilosa.
Conversão:
Todo tempo pensamos na necessidade de conversão. A Quaresma nos ajuda a
aprofundar este exame pessoal e nos convida ao arrependimento e a volta ao Senhor.
Retiros Quaresmais:
Participe de Retiros Quaresmais. Estaremos em Retiro todas as Sextas-feiras da
Quaresma, das 7 horas da manhã às 7:40h.
Referências
LERNER, Breno. A Cozinha Judaica. Série receias internacionais. Glosário, pg. 8.
Editora Melhoramentos. São Paulo (2001).
Orígenes, presbítero, Das Homilias sobre o Levítico, – in http://pantokrator.org.br/po/mediacenter/leitura-oficio/leitura-oficio-segunda-feira-da-iv-semana-da-quaresma/
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