terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A Quaresma: Origem e Práticas.

A Quaresma: Origem e Práticas
Rev. Edson Cortasio Sardinha

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I. A Quaresma
A Quaresma é mencionada pela primeira vez no Concílio de Nicéia (o primeiro Concílio de Niceia foi uma reunião de bispos cristãos reunidos na cidade de Niceia da Bitínia, atual İznik, Turquia, em 225 d.C).  
 Foi criada a partir de duas práticas da Igreja Primitiva: O longo jejum anterior à Páscoa e o período de preparação para o batismo. Desde o II século o candidato ao batismo esperava três anos para ser batizado. O batismo ocorria uma vez ao ano, no dia da Páscoa. Na Sexta feira santa ele ia à igreja e colocava as roupas de neófitos. Ali ficava em jejum até o Domingo da Ressurreição onde era batizado nu, em geral por derramamento.
O número quarenta foi determinado pela duração do jejum do Senhor Jesus no deserto. Para alguns líderes da igreja do passado, a quaresma terminava na Quinta-feira Santa e a contagem de 40 dias não contemplava os sábados e domingos.
Hoje é um tempo de oração onde a Igreja é chamada a conversão, oração, arrependimento e avivamento. Se fosse levada a sério mudaria a fisionomia do cristianismo no Brasil.

II. A Origem Judaica
Esta tradição cristã veio do Rito da Expiação do judaísmo. A palavra expiação aparece poucas vezes na Bíblia, mas o seu conceito constitui o assunto principal do Antigo e do Novo Testamento.  Palavras mais conhecidas como reconciliação, propiciatório, sangue, remissão de pecados e perdão estão diretamente relacionadas com esse tema.
Todo israelita sabia que "aos dez do mês sétimo era o Dia da Expiação" (Levítico 23:27).  Havia sacrifícios diários pelo pecado, mas esse era um dia especial, de santa convocação.  Levítico 16 diz que o Sumo Sacerdote: 1. se purificaria com água; 2. vestiria suas vestes santas de linho; 3. mataria um novilho para fazer expiação por si e pela sua família; 4. tomaria uma vasilha de brasas do altar e entraria no Santo dos Santos para que a nuvem de incenso cobrisse o propiciatório, que era o lugar da expiação, da propiciação e da reconciliação; 5. sairia, tomaria o sangue do novilho, entraria pela segunda vez no lugar santo com o sangue e o aspergiria sete vezes sobre o propiciatório e diante dele; 'mataria o bode para a oferta pelo pecado, ultrapassaria o véu pela terceira vez e faria com o sangue como tinha feito com o sangue do novilho; faria expiação pelo lugar santo e pelo altar do holocausto; imporia as mãos sobre a cabeça do bode vivo, confessaria os pecados do povo e enviaria o bode para o deserto; e tiraria as vestes de linho, iria lavar-se, poria outra roupa e ofereceria um holocausto por si e pelo povo.
Esse dia era impressionante, santo e de grande importância porque os pecados de Israel eram expiados por meio de sangue. Já que "é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados" (Hebreus 10:4), esse ritual devia repetir-se a cada ano (Levítico 16:34) até aquele dia grandioso em que Cristo seria "oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos" (Hebreus 9:28).
Hoje este o dia da Expiação é conhecido como Yom Kippur. Yom Kippur é o Dia do Perdão, uma das datas mais importantes do Judaísmo.
No calendário judaico atual começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebreu de Tishrei (que coincide com Setembro, Outubro ou Novembro), continuando até ao seguinte pôr do sol. Os judeus tradicionalmente observam esse feriado com um período de jejum de 25 horas e oração intensa.
Existem 6 proibições no Yom Kippur: Comer (come-se um pouco antes do pôr-do-sol ainda na véspera do dia até o nascer das estrelas do dia de Yom Kippur); usar calçados de couro; manter relações conjugais; passar cremes, desodorante, etc. no corpo; banhar-se por prazer e usar eletrodomésticos.
A essência destas proibições é causar aflição ao corpo, dando, então, prioridade à alma. Pela perspectiva judaica, o ser humano é constituído pelo yetzer hatóv (o desejo de fazer as coisas corretamente, que é identificado com a alma) e o yetzer hará (o desejo de seguir os próprios instintos, que corresponde ao corpo).
A tradição judaica coloca ao mês de EluI, último do ano, como prefácio para ir preparando o homem para a reflexão profunda, até o grande caminho interior. Cedo, nas manhãs de Elul se ouve o som do shofar. Uma semana antes de Rosh Hashaná (Ano Novo Rabínico), também durante a madrugada, se dizem as orações que se chamam "selichot" - perdões). O 1º de Tishrei é o grande dia, a base para um ano novo e um novo ano de vida. Depois seguirão nove dias até o dia do perdão. Dez dias, para aprofundar-se dentro de si, afastar o mal, aproximar o bem. O processo chega a sua culminância no dia 10º de Tishrei : Yom Kipur.

III. A Tradição da Igreja
No Lecionário Cristão a segunda-feira da IV Semana da Quaresma a reflexão é realizada em Levítico justamente sobre o Dia da Expiação.
Orígenes no século III fez um belo sermão sobre o Dia da Expiação e o Sacrifício de Cristo na cruz. Ele diz:
“Uma vez por ano o sumo sacerdote, afastando-se do povo, entra no lugar onde estão o propiciatório, os querubins, a arca da aliança e o altar do incenso; ninguém pode entrar aí, exceto o sumo sacerdote. Mas consideremos o nosso verdadeiro sumo sacerdote, o Senhor Jesus Cristo. Tendo assumido a natureza humana, ele estava o ano todo com o povo – aquele ano do qual ele mesmo disse: O Senhor enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres; proclamar um ano da graça do Senhor e o dia do perdão (cf. Lc 4,18.19) – e uma só vez durante esse ano, no dia da expiação, ele entrou no santuário, isto é, penetrou nos céus, depois de cumprir sua missão redentora, e permanece diante do Pai, para torná-lo propício ao gênero humano e interceder por todos os que nele creem”.

IV. Como viver o período Quaresmal?
Os domingos: Os domingos da Quaresma são ricos. Os Evangelhos e os textos Bíblicos convidam para o arrependimento e nos preparam para o sacrifício do Senhor.
Lecionário: Leia as leituras Bíblicas de cada domingo que são apresentadas no final do Boletim, segundo o Lecionário Comum.
Jejum: Faça jejum uma vez por semana, de preferência na sexta-feira lembrando-se da morte do Senhor. Caso tenha dúvidas, por motivo de saúde, pergunte ao seu médico sobre a duração do jejum e o que não poderá se abster nestas horas.
Abstinência: Faça abstinência em oração e consagração de alguma coisa importante para você. (televisão, carne, refrigerante, etc.).
Oração: Coloque diante de Deus diariamente sua vida e família e clame por conversão e unção de Deus para que possamos viver verdadeiramente a justiça e a paz de Cristo no mundo.
Leituras de Espiritualidade: Procure leituras próprias para este período. Livros que falem sobre oração, jejum, conversão, perdão, etc.
Caridade: Não apenas na Quaresma, mas em todo o tempo, viva o jejum praticando a Caridade e o amor ao próximo. Neste tempo procure fazer uma caridade relevante e sigilosa.
Conversão: Todo tempo pensamos na necessidade de conversão. A Quaresma nos ajuda a aprofundar este exame pessoal e nos convida ao arrependimento e a volta ao Senhor.
Retiros Quaresmais: Participe de Retiros Quaresmais. Estaremos em Retiro todas as Sextas-feiras da Quaresma, das 7 horas da manhã às 7:40h. 



Referências
LERNER, Breno. A Cozinha Judaica. Série receias internacionais. Glosário, pg. 8. Editora Melhoramentos. São Paulo (2001).
Lynn D. Headrick. O que Está Escrito? In http://www.estudosdabiblia.net/

Orígenes, presbítero, Das Homilias sobre o Levítico, – in http://pantokrator.org.br/po/mediacenter/leitura-oficio/leitura-oficio-segunda-feira-da-iv-semana-da-quaresma/

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