Rev. Edson Cortasio Sardinha
U
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m pastor
derramou doze litros de óleo em sua cabeça para receber unção e repassar aos
fiéis da Igreja. Num culto pentecostal um pastor derramou dois litros de óleo
na cabeça e se sentiu cheio de poder. Um pastor enterrou uma garrafa de óleo no
monte para que o mesmo ficasse cheio de poder e unção. Garrafinhas de óleo de
unção são vendidas nos templos para atrair dinheiro para a obra e poder para as
famílias.
Infelizmente existem tantos exageros
e fanatismo com o uso do óleo da unção que muita gente prefere ignorar a
prática bíblica da Unção dos Enfermos.
Desejo de forma rápida, compartilhar
breves palavras sobre a Unção com óleo na Bíblia, na História da Igreja e na
Liturgia
1.
Tipos de Unção
No antigo Testamento encontramos o
uso do óleo para ungir objetos. Era uma forma de consagrar os objetos para o
culto a Deus. (Êxodo 29:36-37; 30:25-29). Os objetos ungidos se tornavam santos
ao serviço do Senhor.
O
Antigo Testamento também fala da Unção de Pessoas. Wesley diz que "Entre
os Judeus, a unção era a cerimônia pela qual os profetas, os sacerdotes e os
reis eram iniciados nos seus ofícios" (Nota de Wesley a Mateus 1.16). Eram ungidos os profetas, os reis e os
sacerdotes.
Unção de Reis: Os reis eram ungidos
como libertadores para o povo de Israel e para governar sobre o povo como seu
pastor (I Sm 9.16).
Unção de Sacerdotes: Os sacerdotes
eram ungidos, de modo a consagrá-los e reconhecê-los como pessoas separadas
para servir a Deus através do sacerdócio (Ex 40.13-15).
Unção de profetas: O ofício
profético era estabelecido pelo ato da unção. (Is 61.1-3.
2. Os Produtos utilizados para a
unção
Azeite: Era símbolo da alegria, da saúde e da
qualificação de uma pessoa para o serviço do Senhor (Sl 92.10).
Unguento: Era uma gordura misturada
com perfumes especiais que lhe davam características muito desejáveis. Era
utilizado para ungir os pés dos hóspedes, simbolizando a alegria pela chegada
daquele hóspede, e desejando-lhe boas vindas (Jo 11.2; Dn 10.2-3; Rt 3.3).
Óleos curativos: Usavam-se os óleos
com poder curativos para amolecer feridas e purificá-las (Is 1.6, Lc 10.34).
Unguento fúnebre: Este unguento era
utilizado na preparação do corpo para o sepultamento, como parte de um processo
de embalsamamento: (Mt 26.12; Lc 23.55-56).
3.
Modos de aplicação
Na cabeça: O derramamento de óleo
sobre a cabeça de um homem indicava que este homem havia sido separado para uma
determinada tarefa a serviço do Senhor ( I Sm 10.1; Sl 23.5; Ec 9.8).
No rosto: A unção do óleo no rosto
tinha como objetivo a hidratação, e a proteção contra as forças da natureza (Sl
104.15).
Nos pés: Como já foi dito, este ato
estava normalmente relacionado com uma recepção digna e alegre de um hóspede bem-vindo
(Lc 7.38)
Sobre as feridas: Utilizado como medicamento
(II Rs 20.5-7).
No Evangelho de Marcos 6.7,12-13
está escrito: "Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois
e dava-lhes poder sobre os espíritos maus. Então os discípulos partiram e
pregaram para que as pessoas se convertessem. Expulsavam muitos demônios e
curavam muitos doentes, ungindo-os com óleo".
A expulsão dos demônios e a cura milagrosa
de muitos enfermos eram acompanhadas da unção com óleo.
A Carta de Tiago 5.14-16 diz:
"Alguém de vocês está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para
que orem por ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. A oração feita
com fé salvará o doente: o Senhor o levantará e, se ele tiver pecados, será
perdoado. Confessem mutuamente os próprios pecados e orem uns pelos outros,
para serem curados. A oração do justo, feita com insistência, tem muita
força".
A orientação doutrinária é que os doentes
sejam ungidos com óleo pelos presbíteros em nome do Senhor. A oração da fé levantará
os enfermos e perdoará pecados.
Tanto em Marcos como Tiago, a unção
com óleo esta relacionada a uma ação de Deus, e não aos poderes curativos ou
medicinais do óleo.
6. O Uso da Unção na História da
Igreja.
Orígenes, um dos Pais da Igreja, comenta
o texto de Tiago 5:14, mas trata apenas da questão do perdão dos pecados, e não
menciona o uso do óleo.
Agostinho menciona o uso do óleo uma
vez em seus escritos sobre milagres.
Tertuliano, diz Sétimo Severo, foi curado
na oração com imposição do óleo pelo cristão Prócolo.
Crisóstomo dizia que o óleo para
ungir os doentes deveria ser retirado das lâmpadas que alumiavam o templo. Esta
prática é usada ainda hoje na Igreja Grega.
Crisóstomo também recomenda ungir um
bêbado com óleo retirado da tumba dos mártires cristãos, como remédio para
curar a bebedice.
Os Nestorianos misturavam óleo e
água com algumas relíquias de alguns santos; caso estas não fossem encontradas,
usava-se poeira de uma cena de martírio e ungia-se o doente com tal mistura.
Cirilo de Alexandria e Cesário de
Arles alertavam o povo contra encantamentos e mágicas, dizendo que o poder não
vinha do óleo. Óleo é apenas Sinal.
A partir do quarto século em diante,
a liturgia da igreja Grega e outras liturgias orientais já continham fórmulas
para consagrar o “óleo santo”. Um bom exemplo disso é O Sacramentário de São
Serapião (quarto século, Egito).
A carta de Inocêncio I para
Decentius, datada de 19 de Março de 416 diz que “os cristãos doentes têm o
direito de serem ungidos com o santo óleo da crisma, o qual, sendo consagrado
pelo bispo, não é legal apenas para os bispos somente, mas para todos os
cristãos que precisem dele para suas próprias necessidades, bem como para seus
servos.”
Antes do fim do oitavo século, contudo,
uma mudança ocorreu no Ocidente, pela qual o uso do óleo foi transformado para
unção daqueles que estavam para morrer, não como um meio para recuperar o
doente, mas com vistas à remissão dos pecados daquele que está morrendo.
O sacramento da Extrema Unção é
mencionado pela primeira vez entre os sete sacramentos da Igreja Católica no
século XII. Foi discutido e decretado no Concílio de Trento (na pós-Reforma),
que “a santa unção do doente foi um sacramento estabelecido por Cristo e
promulgado aos crentes por Tiago, apóstolo e irmão e nosso Senhor”.
O Concílio Vaticano II mudou o nome
de Extrema Unção para Unção dos Enfermos, seguindo uma linha ecumênica para
estar mais próximo dos Protestantes Históricos.
Atualmente a Igreja Católica, Igreja
Anglicana e outras igrejas históricas usam três óleos para a Liturgia da
Igreja.
Óleo
da Confirmação (crisma): usado na ocasião em que o jovem (ou adulto) reafirma
os votos batismais que foram feitos em seu nome por seus pais e padrinhos,
tornando-se “responsável pela Fé que professa”. Também é usado nas ordenações
sacerdotais como sinal de consagração dos “ungidos de Deus” para exercer o
Sagrado Ministério;
Óleo dos Catecúmenos: usado nas
celebrações do Santo Batismo (através do sinal da cruz) significando a
libertação do mal para que o iniciado na Fé Cristã seja consagrado e esteja
apto a receber o Espírito Santo que vai guiá-lo no “novo nascimento em Cristo”,
e
Óleo dos Enfermos: usado na administração
da Bênção da Saúde (que tomou o lugar da “extrema unção”). Esta unção é para
que a pessoa fique curada, ou tenha força para enfrentar os sofrimentos olhando
para a Paixão do Senhor Jesus, ou então para, sendo a vontade de Deus,
prepare-se para atravessar o “vale da sombra da morte” (Sl 23) e desfrutar da
Vida Eterna.
A Igreja Anglicana e a Católica têm
um bonito Rito de Consagração dos Óleos para Unção na Quinta-feira Santa. Na
parte da manhã acontece este Rito Sacramental - A Bênção dos Santos Óleos. Não
se pode precisar com exatidão a origem da bênção conjunta destes três óleos,
mas sabe-se que também eram abençoados no Domingo de Ramos e até no Sábado de
Aleluia. Atualmente este ritual é presidido pelo bispo diocesano, e têm lugar
no templo da Igreja Catedral onde são consagrados.
A Unção aos Enfermos foi transformado
em Sacramento.
7. Liturgia da Unção dos Enfermos
O Livro de Oração Comum, utilizado
pelos Anglicanos desde o século XVI e amado por João Wesley, apresenta dois
Ritos de Unção dos Enfermos.
O Culto é iniciado com um Cântico de
iniciação e uma palavra de acolhida. Logo após é realizado o Ato Penitencial.
Louva-se a Deus com Cânticos e a Igreja recebe a Palavra no momento da Liturgia
da Palavra. São lidas duas porções da Bíblia: Tiago 5.14-16 e Marcos 6.7-13.
Finalmente ocorre a Imposição das
Mãos com a Unção do Óleo. No Livro de Oração Comum Brasileiro existe a seguinte
orientação: "Qualquer pessoa enferma, seja grave ou passageira a sua
doença, pode receber a imposição de mãos e a Santa Unção, e ambas podem ser
administradas tantas vezes quantas requeridas durante a mesma unção".
Neste momento o Ministro diz ao povo:
"O Senhor Onipotente, que é uma torre forte para quantos nele confiam, ao
qual todas as coisas nos céus, na terra, e debaixo da terra se curvam e
obedecem; seja agora e para sempre a tua defesa, e te faça conhecer e sentir,
que debaixo do céu não há outro nome dado aos homens em quem e por quem tu
recebas saúde e alcances a salvação, exceto unicamente o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo".
Outra orientação segue: "As
pessoas doentes devem vir à frente e ajoelhar-se no genuflexório, ou,
incapacitados a isso, o Ministro irá a elas. Então, imergindo o seu polegar
direito no Santo Óleo, porá suas mãos sobre a cabeça de cada um, e depois
ungirá a fronte com o sinal da cruz, dizendo: Eu imponho minha mão sobre ti e
te unjo com óleo, em o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, no poder de
nosso Senhor Jesus Cristo para que, livre de todo o sofrimento e enfermidade,
recebas a bênção da saúde.”
O Ministro ora para que a Unção vá
além da cura física. "Assim como está ungido externamente com este Santo
Óleo, assim também o nosso Pai celestial te conceda a unção interior do
Espírito Santo. Que Ele, por sua grande misericórdia, perdoe os teus pecados,
te liberte de teus sofrimentos, fortaleça e te restaure integralmente. Que o
Senhor te liberte de todo o mal, te conserve em toda bondade, e te preserve na
vida eterna. Por Jesus Cristo, nosso Senhor".
8. Nossa Prática de Ungir Enfermos
De um lado está o exagero e
fanatismo de grupos neopentecostais com relação a Unção com Óleo, do outro lado
está um Ritual Litúrgico que dá à unção uma beleza, ordem e decência.
Olhamos para Tiago 5.14-16 e Marcos
6.7-13. e praticamos com simplicidade e fé a Unção dos Enfermos, não crendo no
Poder do Óleo, mas no poder da Oração da Fé em Cristo Jesus.
Não usamos o Óleo como Sacramento
nem como veículo mágico de poder.
Utilizamos apenas como meio de Graça,
debaixo da orientação bíblica para Ungir os Enfermos e consagrar nossas vidas
ao Senhor.
Ao Senhor seja a Glória, agora e
para sempre. Amém.
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