“Andemos na Luz do Senhor” – Um Devocional para o 1º Domingo do Advento
“Andemos na luz do Senhor.” (Is 2.5)
O Advento abre, mais uma vez, o ciclo da esperança no calendário cristão. Como no cântico antigo da Igreja – “Ó vem, ó vem, Emanuel” – nosso coração se volta ao Deus que prometeu, veio, e virá novamente em glória. A liturgia deste primeiro domingo nos chama a um movimento interior: vigilância, palavra que resume a postura daquele que aguarda o Senhor com amor desperto e esperança ativa.
1. A Vigília que ilumina: Isaías 2.1-5
A profecia de Isaías apresenta uma visão elevada: povos subindo ao monte do Senhor para aprender seus caminhos. Não é apenas uma paisagem escatológica, mas um convite à transformação presente.
A Vigília do Advento nasce quando permitimos que a luz de Deus revele nossos passos, endireite nosso caminho e nos lembre que toda caminhada cristã acontece sob o brilho da graça. Isaías conclui com um apelo que é também uma ordem amorosa: “Vinde, andemos na luz do Senhor.” A espiritualidade do Advento é, antes de tudo, peregrinação rumo a Cristo.
2. “Alegrei-me quando me disseram”: o caminho para a Casa do Senhor
O Salmo 122, proclamado responsorialmente, é um dos mais belos cânticos de peregrinação. Ele recorda que caminhar para a Casa do Senhor é motivo de alegria, comunhão e paz. Assim também é o Advento:
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Tempo de alegria: porque o Senhor se aproxima.
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Tempo de comunhão: porque caminhamos juntos, como tribos que sobem ao templo.
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Tempo de paz: porque rogamos que a paz do Messias encontre morada em nossas casas, igrejas e cidades.
O Advento reacende em nós a esperança de uma Jerusalém restaurada – não uma cidade geográfica, mas o povo de Deus reunido, cheio de esperança e voltado para o Senhor.
3. “Despertai!” – O chamado apostólico (Rm 13.11-14)
Paulo é direto e pastoral: “Já é hora de despertardes do sono.” O Advento não é uma memória sentimental, mas um chamado ético e espiritual.
O apóstolo nos lembra que a salvação está mais próxima do que quando cremos. Por isso, o Advento exige decisão:
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Rejeitar as obras das trevas,
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Vestir as armas da luz,
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Revestir-se do Senhor Jesus Cristo, a verdadeira vestimenta do discípulo.
Como ensina a oração inicial da liturgia: “Dá-nos a graça de rejeitar as obras das trevas e vestir-nos das armas da luz.” O Advento é o tempo no qual relembramos nossa verdadeira identidade: pertencemos ao dia que está por vir.
4. Como nos dias de Noé: Mateus 24.37-44
Jesus compara a sua vinda aos dias de Noé: tudo parecia normal, mas o coração das pessoas estava distraído. O problema não era comer ou beber; era viver como se Deus não viesse mais.
Por isso o Senhor nos adverte: “Vigiai!”
A vigilância cristã não é medo, mas amor atento. Não é ansiedade, mas esperança firme. É o olhar do servo que acende a primeira vela e diz:
“Minha vida pertence Àquele que veio, que vem diariamente pela Palavra e pelos Sacramentos, e que virá em glória.”
No acendimento da vela da Vigilância, oração e profecia se encontram: Cristo vem despertar nossas almas, dispersar o temor e renovar a fé.
5. Caminhos do Advento: preparação, transformação e reconciliação
Os hinos litúrgicos proclamados neste culto são verdadeiras homilias cantadas. Eles nos recordam três atitudes indispensáveis:
a) Advento é tempo de preparação
Abrir caminhos para o Deus-menino é abrir espaço no coração. Preparação não é pressa, mas disponibilidade.
b) Advento é tempo de transformação
“Mudar caminhos para um mundo novo” — diz o hino.
A transformação começa com pequenos atos de caridade, reconciliação e serviço humilde.
c) Advento é tempo de perdão e comunhão
“É tempo certo pra pedir perdão e perdoar, seguindo de mãos dadas.”
O Advento só floresce em corações reconciliados.
6. Caminho para a Mesa do Senhor
A Ceia, celebrada neste Domingo, é o lugar onde o Cristo que veio se torna presente entre nós. É ali que o Emanuel — Deus conosco — fortalece a vigilância do seu povo, alimentando-nos para esperar com fé perseverante.
Ao nos aproximarmos da Mesa, confirmamos: “Teu Reino vem, Senhor, vem em nós, vem para nós, vem através de nós.”
Conclusão
Que este Advento reacenda em nós a vigilância amorosa, a esperança firme e a alegria do povo que caminha rumo à luz. Que cada culto, cada vela acesa, cada cântico proclamado, seja como um passo rumo ao Cristo que vem.
E que possamos repetir com a Igreja de todos os séculos:
“Dai glória a Deus!
Emanuel virá em breve, ó Israel!”
Amém.