segunda-feira, 9 de novembro de 2009

BASÍLICA DE LATRÃO


Festa da Dedicação da Basílica de Latrão



Nexo entre as Leituras


O sentido dessa festa. Qualquer templo construído pelas mãos humanas é símbolo da Igreja. De fato, damos o mesmo nome a todas essas construções: "igreja" com letra minúscula. Enquanto que "Igreja", com letra maiúscula faz referência à comunidade convocada por Deus à fé em seu filho Jesus Cristo, que se reúne num templo para dar-lhe culto. A igreja-templo é um símbolo da Igreja-comunidade. Os muros do templo delimitam um ambiente sagrado, dedicado à oração pessoal e comunitária, à celebração da eucaristia e dos demais sacramentos, aos atos de louvor a Deus.

Se isto vale para qualquer tempo, imaginemos a importância que tem a catedral nas dioceses. A catedral representa toda a Igreja local, guiada pelo bispo, que é o sucessor dos apóstolos. A catedral "representa" a comunidade local. Se estamos viajando e vemos numa cidade uma catedral bonita pensamos: "Que grande deve ser a fé dos cristãos deste lugar, que construíram uma obra tão esplêndida para manifestar seu amor a Cristo!". Por isso no aniversário da consagração da catedral é um dia de festa para todas as dioceses.

O bispo de Roma, sucessor de Pedro, é por mandato de Jesus Cristo o pastor universal de toda a Igreja. Por isso sua catedral, que se chama são João de Latrão está dedicada a são João Batista e a são João Evangelista, e consagrada a nosso Salvador, simbolizando toda a Igreja universal. É esta a festa que hoje celebramos: a dedicação da basílica de são João de Latrão, que é, como diz a inscrição no seu pórtico: "Mãe e cabeça de todas as igrejas de Roma e do mundo". Quando lembramos este bonito templo, construído no século IV, logo após o fim das perseguições, lembramos de todas as demais igrejas que foram construídas durante os séculos. Celebramos o Senhor, que instituiu sua Igreja para reunir na unidade, sob a guia de Pedro e de seus sucessores, toda a humanidade.



Mensagem Doutrinal


1. O templo, lugar santo. O antigo templo de Israel foi construído por Salomão que viveu por volta do ano de 960. O Templo está edificado com grande suntuosidade e custodiava "a arca da aliança". No deserto, Deus se encontrava com Moisés na tenda. Davi, pai de Salomão, pergunta-se, por sua vez, como é possível que ele viva num palácio e o Senhor numa tenda. Contudo, sabia-se que Javé não poderia estar contido num templo feito por obra de mão humana. Salomão mesmo na oração da dedicação do templo de Jerusalém exclama: "Mas será que Deus pode realmento morar sobre a terra? Se os mais altos céus não te podem conter, muito menos esta casa que eu construí! Mas atende, Senhor meu Deus, à oração e à súplica do teu servo, e ouve o clamor e a prece que ele faz hoje em tua presença. Teus olhos estejam abertos noite e dia sobre esta casa, sobre o lugar do qual disseste: ‘Aqui estará o meu nome!’ Ouve a oração que o teu servo te faz neste lugar." (I Re 8, 27-29). Notamos, portanto, a tensão entre a transcendência de Javé e a tentativa de colocá-lo num lugar determinado, o templo. Anteriormente Salomão já tinha escutado a seguinte advertência: "Por esta Casa que estás edificando, se caminhas segundo meus preceitos, ages segundo minhas sentenças e guardas todos os meus mandamentos para andar conforme eles, eu cumprirei minha palabra contigo, a que disse a Davi teu pai, habitarei em meio dos filos de Israel e não abandonarei meu povo Israel". Assim se tentava superar a antinomia: de fato, Javé habitará no templo, se o povo caminha segundo os preceitos e sentenças recebidas.

O templo foi para Israel a sede da presença divina. O templo da casa de Deus, especialmente quando a arca da aliança é nele introduzida. A nuvem encheu templo do Senhor (I Re 8, 10). Graças à presença de Javé, o templo é o lugar do culto e da oração. Quando Ezequias recebe a carta ameaçadora de Senaquerib, a lê e sobe ao templo, abrindo a mesma diante do Senhor, rogando-lhe (II Re 19, 14). Os salmos e outras passagens bíblicas apresentam templo como a morada de Deus (Sal 27, 4; 42, 5).

O templo também foi para Israel um sinal da escolha. Javé tinha decidido habitar naquele lugar, naquela cidade, e protegê-la do inimigo. O templo construído representava para os israelitas a fidelidade de Deus às suas promessas. Por esta razão, a destruição do templo por parte de Nabucodonosor foi um duro golpe para a fé de Israel. Esta pequena visão histórica nos ajuda a compreender melhor as características próprias do templo cristão.


2. O templo cristão. Primeiramente, é conveniente ressaltar a atitude de Jesus sobre o templo judeu. "Jesus, como os profetas anteriores a Ele, teve pelo Templo de Jerusalém o mais profundo respeito. Nele foi apresentado por José a Maria quarenta dias após o seu nascimento. Com doze anos, decide ficar no Tempo para lembrar a seus pais que deve dedicar-se às coisas do Pai. Durante os anos de sua vida oculta, subiu ao Templo a cada ano, no mínimo por ocasião da Páscoa; até seu ministério público foi ritmado por suas peregrinações a Jerusalém para as grandes festas judaicas. Jesus subiu ao templo como lugar privilegiado de encontro com Deus. O Templo era para ele a morada e seu Pai, uma casa de oração, e se indigna pelo fato de seu átrio externo ter-se tornado um lugar de comércio. Seus discípulos lembram-se do que está escrito: ‘O zelo por tua casa me devorará’ (Sl 69,10). (Jo 2,16-17). Depois de sua ressurreição, os apóstolos mantiveram um respeito religioso pelo Templo. Contudo, no limiar de sua Paixão, Jesus anunciou a ruína desse esplêndido edifício, do qual não restará mais pedra sobre pedra. Há aqui o anúncio de um sinal dos tempos finais que vão abrir-se com sua própria Páscoa. Esta profecia, porém, pôde ser relatada de modo deformado por testemunhas falsas no momento do interrogatório de Jesus diante do sumo sacerdote, sendo-lhe atribuída como injúria quando ele foi pregado à cruz. Longe de ter sido hostil ao Templo, local que aliás, ministrou o essencial de seu ensinamento, Jesus fez questão de pagar o imposto do Templo, associando este a Pedro, que acabara de estabelecer como fundamento de sua Igreja futura. Mais ainda: identificou-se com o Templo ao apresentar-se como a morada definitiva de Deus entre os homens. Eis por que sua morte corporal foi decretada anuncia a destruição do Templo, (destruição) que manifestará a entrada em uma nova era da História da Salvação: ‘Vem a hora em que nem sobre esta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai’ (Jo 4, 21)." (Catecismo da Igreja Católica, 583-587)

Portanto, Jesus respeita e venera o templo, mas sua paixão, morte e ressurreição indicam a destruição definitiva do templo, pois ele mesmo é o novo templo, onde verdadeira e definitivamente está a plenitude da divindade (cf. Col 2, 9). Diz o cardeal Ratzinger: "O culto cristão, ao contrário, considera definitiva e teologicamente necessária a destruição do templo de Jerusalém: no lugar dele está agora o templo universal de Cristo ressuscitado, cujos braços estendidos na cruz se dirigem para o mundo para atrair todos ao abraço do amor eterno" (Ratzinger J. Introduzione allo spirito della liturgia, p. 45). Em Jesus existe um novo templo e um novo e definitivo sacrifício. De agora em adiante existe um único sumo sacerdote com um único sacrifício. Tudo isso nos diz que a liturgia cristã é, por essência, universal, e se dirige a todos os povos da terra.
Na maioria das religiões os templos não são lugares de reunião, mas espaços culturais reservados à divindade. No caso do templo cristão é diferente. O templo tomou o nome de domus ecclesiae (casa da igreja, casa da assembléia que se reúne). Assim, a palavra Igreja chega a significar não somente a comunidade reunida, mas também o edifício. Isso significa que é o próprio Cristo que celebra o culto. Ele é o culto dos fiéis nos momentos em que eles se reúnem.

Hoje celebramos a dedicação ou consagração da domus ecclesiae por excelência, já que se trata da catedral do bispo de Roma, de modo que é "mãe e cabeça de todas as Igrejas de Roma e do mundo". A basílica de Latrão hospedou todos os papas a partir de Constantino até o ano de 1304. Nela realizaram-se cinco concílios (os dos anos 1123,1139,1179,1215, e 1512).


3. O cristão, templo de Deus. A segunda leitura retirada da primeira carta aos Coríntios nos diz: Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. O templo de Deus é sagrado e vós sois este templo de Deus. Que grande dignidade tem o cristão: foi configurado com Cristo, pertence ao corpo de Cristo, é templo de Deus! O cristão é o lugar da manifestação de Deus. Quando lembramos hoje a dedicação da Igreja mãe de todas as Igrejas do mundo, lembremos também nossa condição de "Templo de Deus".



Sugestões Pastorais


1. O amor à Igreja. Se tem algo que essa festa hoje nos convida é a incrementar nosso amor à Igreja. Entendendo-se Igreja na sua explicação mais profunda: sacramento universal de salvação. A Igreja é em Cristo um sacramento ou sinal e instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano. Amar a Igreja significa amar o Papa, cabeça visível da mesma; a amar a Igreja significa alimentar-se de sua doutrina com fé; amar a Igreja é sentir-se parte viva da mesma, "pedra viva". Por isto, o amor à Igreja nos leva a ser apóstolos para transmitir aos outros a alegria de encontrar a salvação em Cristo Jesus. A Igreja é mãe e mestra: nela recebemos o batismo e os sacramentos. Ela nos acompanha no nosso peregrinar humano a caminho do céu.

2. O cultivo da vida de graça. Já que somos templo de Deus e o Espírito Santo habita em nós, devemos cuidar muito nossa alma para hospedar a tão grande hóspede. Saibamos valorizar nossa dignidade como pessoas e como cristãos. Hoje as seduções do pecado são múltiplas e o diabo "anda como leão buscando a quem devorar". Resistamos firmes na fé, porque Deus é fiel às suas promessas. Defendamos nossa vida de graça, fortalecendo-a com a oração e os sacramentos. Procuremos a penitência se temos a desgraça de perder a graça em algum momento.

Autor: Pe. Octávio Ortiz, L.C. | Fuente: Sacerdos - CATHOLIC.NET